segunda-feira, 8 de junho de 2009

As Escolas encaram o Bullying - Veja JUNHO/09

ESCOLAS APOSTAM EM PREVENÇÃO

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”

O trecho acima, que abre o romance O Ateneu, lançado em 1888 por Raul Pompéia, permanece um clássico escolar. Para muitos, ir ao colégio demanda valentia. Isso se deve a um tipo de violência que é antiga, mas vem sendo popularizada sob o conceito de bullying – palavra inglesa que significa intimidar e atormentar e vem preocupando cada vez mais as escolas brasileiras.
Embora não haja números oficiais, a prática de atazanar colegas – muitas vezes confundida por pais e educadores com uma simples brincadeira – já envolve 45% dos estudantes brasileiros, segundo estimativa do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes), organização com sede em Brasília. O índice está acima da média mundial, que variaria entre 6% e 40%.
Contra o bullying, as escolas investem em estratégias de prevenção, com solução pontual dos conflitos. Conforme a gravidade, algumas instituições particulares lançam mão de medidas punitivas como advertência e suspensão. A prevenção se dá por meio de palestras, dinâmicas em sala de aula e orientação oral ou escrita sobre o uso saudável dos meios digitais – já que
parte do bullying ocorre on-line.
Privadas – Apesar da estimativa alarmante, as escolas particulares ouvidas pela reportagem de VEJA.com frisaram que são raros os casos de bullying dentro de seus muros. O combate ao problema é feito pelos professores ou por palestrantes convidados. “Discutimos o assunto com os estudantes num curso específico e endereçamos cartilhas sobre cyberbullying aos pais”, conta Cristiana Assumpção, coordenadora de tecnologia na educação do colégio Bandeirantes, de São Paulo. “A ideia é que o conteúdo seja reforçado em casa.”
A solução de conflitos tem início com uma tentativa de diálogo. “Quem nos avisa do bullying, em geral, é a vítima. Se o problema ainda não tiver tomado um grande vulto, conseguimos trabalhar de forma discreta, chamando os envolvidos para uma conversa. Se preciso, convocamos as famílias”, diz Fábio Aidar, vice-diretor-geral do colégio Santa Cruz. “Quando o caso toma vulto, chegamos a interromper aulas para discutir a questão com os alunos.”
A atuação do Colégio Chromos, de Belo Horizonte, vai no mesmo sentido. “Quando identificamos algum problema, conversamos com o aluno e imediatamente chamamos a família, que tem de ser conscientizada sobre o sofrimento enfrentado pelo filho, capaz de influir em seu desempenho escolar e nas suas relações com outros alunos”, diz Léa Maria Cunha, psicóloga do Chromos. “Também recomendamos à família que conduza o filho para uma terapia e acompanhe sempre sua rotina, saiba quem são seus amigos, converse com ele. O suporte dos pais é fundamental”.
O colégio Graphein, instituição de São Paulo que recebe alunos com histórico de dificuldades de adaptação, investe na linha relacional – ou seja, na interação entre estudante e escola. “A melhor forma de trabalho é o acolhimento com vínculo, é fazer o adolescente se sentir ouvido. O vínculo cria confiança e desmonta as defesas dele, melhorando a sua reflexão”, afirma Nivea Fabricio, diretora do colégio. “Nossos alunos, vítimas ou agressores, chegam fragilizados. É preciso resgatar a auto-estima de todos, porque, à medida que alguém se fortalece, deixa de temer o diferente e de sentir necessidade de se auto-afirmar.” Para Nivea, é preciso envolver também os pais nesse esforço.
Estado – Nas escolas públicas, a prevenção é dirigida aos professores, vistos como multiplicadores do saber. A especialista Cleo Fante, ex-presidente do Cemeobes, comandou um curso de capacitação para as 91 diretorias de ensino da rede estadual paulista, no início deste ano. A ideia era instruí-los a evitar a ocorrência de bullying nas escolas sob sua responsabilidade.
No Paraná, o tema faz parte de um curso de formação continuada para docentes, em que se discute o enfrentamento à violência. “O assunto reaparece em oficinas, grupos de estudos e materiais impressos”, diz Sandro Savoia, coordenador dos desafios educacionais contemporâneos da Secretaria de Educação do estado. O combate à violência é reforçado pela Patrulha Escolar, um grupamento da Polícia Militar que recebe formação extra para acompanhar o dia-a-dia das escolas, na tentativa de evitar ocorrências.Para Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), é acertado o movimento preventivo das escolas, principalmente quando reforçado por ações de reabilitação de agressores e vítimas. “A reabilitação tem de olhar o indivíduo como um todo, entender seu contexto e contemplar sua família. Não adianta apenas punir.”

FONTE: http://veja.abril.com.br/especiais_online/bullying/abre.shtml

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